A ascenção da confiança nos influenciadores
Por que a geração Y e a geração Z confiam mais em influenciadores do que em instituições?

Quando milhões de norte-americanos perderam suas casas na crise financeira de 2008, nenhum executivo do alto escalão de Wall Street foi preso. Quando a Organização Mundial da Saúde e governos nacionais deram conselhos conflitantes durante a pandemia de COVID-19, muitas pessoas pararam de ouvir completamente. E quando os principais veículos de comunicação cada vez mais enquadram os eventos em linhas partidárias, os telespectadores se afastam em massa. Esses não são fracassos abstratos. São a realidade vivida que moldou uma geração.
Portanto, quando os millennials e a geração Z dizem que confiam mais em influenciadores do que em instituições, não estão rejeitando a verdade. Estão reagindo à traição.
De acordo com uma pesquisa feita em 2023 pela Morning Consult, quase metade dos millennials e da geração Z confia mais em influenciadores do que em celebridades, jornalistas ou autoridades públicas quando se trata de opiniões e conselhos. Isso não é sinal de apatia ou incredulidade. É uma resposta direta à erosão da credibilidade das próprias instituições que antes alegavam salvaguardar a confiança pública.
Influenciadores podem não ter diplomas de universidades renomadas ou cargos governamentais, mas sua influência é conquistada, não herdada. Eles sobrevivem mantendo um relacionamento direto com seu público. Se mentem ou decepcionam, perdem seguidores. Esse tipo de ciclo de feedback imediato não existe na maioria das instituições.
A grande mídia pode perder credibilidade e ainda assim manter suas concessões ou se apoiar no seu legado. Políticos podem inventar meias-verdades e ainda assim serem reeleitos. Universidades podem silenciar opiniões divergentes e ainda assim serem percebidas como guardiãs da integridade intelectual. Essas instituições frequentemente operam com base em confiança presumida, não em responsabilidade conquistada diariamente.
Compare isso com a economia de influenciadores, onde a atenção é tudo. Um erro pode arruinar uma carreira, especialmente em um setor que hoje vale 24 bilhões de dólares globalmente, com quase 60% das marcas de e-commerce contando com influenciadores para impulsionar vendas e engajamento. Uma mentira, se exposta, pode destruir anos de reputação construída. Um desses casos, o influenciador de beleza James Charles, acusado de enganar seu público e manipular relacionamentos, perdeu mais de um milhão de seguidores em poucos dias. A reação negativa foi rápida, pública e financeiramente prejudicial.
Na melhor das hipóteses, é assim que a confiança descentralizada se parece. O público vota com sua atenção. Ninguém está livre do escrutínio. Esse tipo de competição dinâmica força os influenciadores a conquistar relevância continuamente, a não depender apenas de credenciais.
Mas esse sistema tem riscos. Veja o projeto CryptoZoo de Logan Paul. Ele o comercializou como uma maneira fácil de obter renda passiva por meio de híbridos de animais NFT. Seus milhões de fãs compraram a ideia, apenas para descobrir que o projeto era mal desenvolvido e, no final, inútil. Paul foi forçado a se desculpar, mas somente depois que a indignação pública não lhe deixou alternativa. O incidente expôs o lado sombrio da economia de influenciadores, onde a visibilidade pode se tornar uma arma.
E, no entanto, mesmo em caso de falha, esse sistema oferece um tipo de transparência que muitas vezes falta às instituições. A CryptoZoo entrou em colapso à vista de todos. Influenciadores que promovem golpes são publicamente envergonhados. O feedback é confuso, mas é visível.
Claro, nem todos os influenciadores agem de boa-fé. Alguns ganham enorme poder espalhando mentiras, e pode levar anos e processos judiciais para que sejam responsabilizados. A pressão pública não é um regulador perfeito, mas costuma ser mais rápida e eficaz do que a autovigilância institucional. A economia de influenciadores não é automaticamente virtuosa. Mas reflete um conjunto diferente de valores: abertura, desempenho e capacidade de resposta. Os millennials e a geração Z não estão abandonando o conhecimento. Estão abandonando sistemas que parecem ideológicos, distantes e autoprotetores.
Isso não significa que devemos confiar cegamente em influenciadores. Mas significa que devemos entender porque seu modelo repercute. Ele oferece escolhas. Exige consistência. Descentraliza a autoridade de maneiras que desafiam os monopólios tradicionais sobre a verdade.
A cultura de influenciadores recompensa a atenção, e isso pode ser perigoso. Mas também abre caminho para vozes antes excluídas das instituições tradicionais. Ela permite que indivíduos conquistem confiança por meio de ações.
Se quisermos reconstruir a confiança na sociedade, precisamos de sistemas que recompensem a transparência e punam a fraude. Precisamos de estruturas onde a responsabilização pública seja real e as consequências sejam rápidas. É isso que as melhores partes da cultura de influenciadores já fazem.
Esse não é o fim da confiança. É uma nova maneira de construí-la.
Autora: Lika Kobeshavidze
Nascida na Geórgia, é uma escritora política, jornalista analítica e bolsista da Young Voices Europe, especializada em política da UE e segurança regional na Europa. Atualmente, ela mora em Lund, na Suécia, e cursa estudos avançados em Estudos Europeus.
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Lika Kobeshavidze em 7 de julho de 2025 para a Foundation for Economic Education (FEE).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em: